Seu inimigo nunca vai te trair, somente o seu amigo, a pessoa que você ama. A dor da traição é grande, justamente porque ela vem de quem você ama
E o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: O que eu beijar é esse; prendei-o. E logo, aproximando-se de Jesus, disse: Eu te saúdo, Rabi; e beijou-o. Jesus, porém, lhe disse: AMIGO, a que vieste? Então, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam. Mateus 26:48-50
Jesus, porém, lhe disse: Amigo…
Imagina ser cuidado, pastoreado, discipulado por ninguém menos, que o Senhor Jesus Cristo? Durante cerca de três anos, Judas fez parte de um seleto grupo, que foi liderado, tendo como mestre? Ele, Jesus Cristo. Porém Judas o traiu. Nessa história temos dois personagens. Traído e traidor, Jesus Cristo e Judas. Apesar da dedicação, do amor, do carinho, do pastoreio, Jesus Cristo sentiu a dor da traição, da decepção. Ele viu alguém, um amigo, em quem ele acreditou. Sim, Jesus Cristo, acreditou em Judas, deu a ele voto de confiança, viu nele um potencial para ser seu discipulo. Jesus Cristo viu o que para nós, hoje é algo impossível, ele viu um lado bom em Judas, digamos um potencial, ministerial…
Hoje nós sabemos e vemos Judas, como de fato quem ele era e entrou para a história, um traidor. Um elemento materialista, buscou o lucro, priorizando o conforto material. Esse foi o critério de escolha dele, não aceitou viver uma vida simples ao lado de Jesus, ele foi ganancioso. É como aquela moça, que dá fora no namorado pobre, que é um crente e a única coisa que ele tem na vida é Jesus, e escolhe ir buscar alguém lá fora que tenha dinheiro. Pessoas materialistas, são por natureza traidoras. Judas traiu Jesus por ganancia financeira, dinheiro. Judas desprezou o amor de Jesus, porque a prioridade na vida dele, não era ser amado, era ter dinheiro. E o resultado…
Mas vamos analisar a situação pelo efeito de paralaxe, Jesus de outra posição, viu Judas como um amigo. Mas Judas nunca foi amigo de Jesus. Verdade, mas Jesus foi amigo de Judas. O seu inimigo nunca vai te trair, somente o seu amigo, a pessoa que você ama, te a capacidade de te trair, te abandonar, e te decepcionar. A dor da traição é grande, justamente porque ela vem de quem você ama…
Vou tentar analisar a história com empatia pelo ângulo de visão de Jesus. Talvez algumas pessoas alertaram Jesus para não confiar em Judas. Mas o amor do pastor pela ovelha, prevaleceu. O amor ágape sempre produz um amor misericordioso. Quando Jesus olha para uma pessoa, ele não foca nos pecados que ela cometeu, ou nos defeitos e falhas de caráter. Ele sempre vê o que pode ser feito por ela, o propósito é o resgate. Jesus não era bobo, era misericordioso. O verdadeiro pastor não é um bobo, é um misericordioso. Quando a ovelha foge, ele ainda vai atrás dela. Não porque é bobo, mas porque é misericordioso.
Jesus errou com Judas? Claro que não. Jesus fez a coisa certa, o problema é que Judas cuspiu no prato que comeu. O bem que Jesus fez a Judas, não foi invalidado pela traição de Judas. O fato de você se dedicar com amor e carinho a uma pessoa, não pode ser desqualificado pelo fato dessa pessoa trair sua confiança, desprezar o seu amor. O prejuízo não é seu é dela. É claro que a dor e sofrimento da decepção é sua. Talvez um dia, essa pessoa se arrependa da besteira que fez. Talvez…
O problema é que Judas, durante um tempo, mudou apenas religiosamente, na fachada. Mas, o seu coração nunca mudou. Ele por conveniência se adaptou a um contexto, onde ele fez de conta que era um discipulo. Tipo uma pessoa que diz que é crente, frequenta uma igreja, toma Santa Ceia, tudo pura falsidade. O que temos aqui foi a síndrome da personagem “viúva Porcina” da novela Roque Santeiro; “Aquela que foi sem nunca ter sido”. Ou a síndrome de Gabriela Cravo e Canela de Jorge Amado: “Eu nasci assim, vive assim e vou morrer assim”. Pegue uma porquinha, retire ela do chiqueiro, dei um bom banho, passe perfume e talquinho. Solte ela e ela vai voltar para o chiqueiro, simplesmente porque a natureza dela não é de ovelha, é de porquinha, ela quer é a lama, o pecado.
Nesses 35 anos de caminhada cristã, eu vi muita gente passar por igrejas, alguns subiram no altar, cantaram, pregaram, deram testemunho. E hoje lamentavelmente estão fora dos caminhos do Senhor Jesus Cristo. Escolheram o pecado, a desobediência a Palavra de Deus. Priorizaram os prazeres do mundo. Fazer viver a sua vontade, uma vida contrária aos ensinamentos da Palavra de Deus. E quando foram exortados? Bloquearam o profeta nas redes sociais. A ovelha aceita a exortação, a porquinha não. A ovelha é como Pedro, negou Jesus, mas se arrependeu, a porquinha é como Judas, volta para o chiqueiro, para o mundo, para a morte. O que essas pessoas fizeram é em termos práticos, o mesmo que Judas fez, traíram Jesus e o decepcionaram.
Todas as vezes que vejo, uma pessoa mesmo depois de muito tempo de igreja, que participou da Santa Ceia, frequentou os cultos. Ouviu a Palavra, comprou Bíblia, leu, “andou” com Jesus. E essa pessoa escolhe o pecado da desobediência a Palavra de Deus. Eu estou vendo apenas mais um “Judas”, trair e decepcionar Jesus.
A culpa não é de Jesus, da igreja e nem do pastoreio. É que Deus concedeu a essa pessoa o livre arbítrio. Se ela é ovelha, ela vai escolher obedecer, se ela é porquinha, ela vai escolher voltar para o chiqueiro, porque a natureza dela, não é viver no aprisco da igreja, é viver na lama do mundo. Gerando a dor da decepção, em Jesus…
Pastor Cláudio Godoy é escritor, pastor e membro da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte (MG)