Alexei Navalny estava preso desde quando retornou à Rússia, em 2021
Alexei Navalny, cuja morte foi divulgada nesta sexta-feira, 16, pelo serviço penitenciário da Rússia, era o mais feroz oponente interno de Vladimir Putin, a quem ele acusava de tentar matá-lo e de mantê-lo preso sob acusações falsas.
Ele tinha 47 anos. O Kremlin classificou Navalny como um fantoche do Ocidente e um criminoso comum culpado das acusações pelas quais foi condenado – fraude, desacato ao tribunal e extremismo. A prisão onde ele estava informou que investiga a morte.
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Considerado prisioneiro político pessoal do Kremlin por muitos governos ocidentais, os apoiadores dizem que o político da oposição foi sistematicamente perseguido por desafiar Putin, o líder supremo da Rússia há mais de duas décadas.
Ex-advogado, Navalny foi impedido de concorrer à Presidência em 2018, fez denúncias detalhadas de corrupção contra a elite russa e acusou o presidente Putin e seus aliados de serem autocratas que levaram a Rússia a uma guerra desastrosa na Ucrânia.
O Kremlin sugeriu que Navalny era um fantoche da CIA e um desordeiro que pretendia derrubar as autoridades e transformar Moscou em um Estado vassalo dos Estados Unidos. Putin nunca o mencionou pelo nome.
Navalny e seus seguidores – muitos dos quais com menos de 30 anos – foram proscritos como extremistas após realizarem ruidosos protestos contra o governo que foram dispersados com força e incentivarem a votação tática para tentar derrubar os candidatos pró-Kremlin.
Opositor corajoso
No Ocidente, muitas pessoas o viam como um político de oposição corajoso e carismático, pronto para arriscar tudo por um país que ele dizia acreditar que um dia poderia se tornar livre e feliz.
Na Rússia, seu movimento chegou a contar com cerca de 700.000 pessoas, mas a mídia estatal não o mencionou por muitos anos e a opinião pública ficou dividida.
Ele usava o YouTube para pedir aos jovens eleitores que depositassem sua fé no que chamou de “bela Rússia do futuro”, mas achava mais difícil se conectar com as pessoas fora das grandes cidades.
Casado e pai de dois filhos, Navalny sobreviveu ao que os médicos ocidentais disseram ter sido uma tentativa de envenenamento por agente nervoso em 2020 a bordo de um avião na Sibéria.
Mais tarde, ele telefonou para um dos homens que disse ter tentado envenená-lo, fazendo-se passar por outra pessoa, e foi informado de que agentes de segurança do Estado haviam colocado veneno em sua cueca.
Na época, ele falou de Putin: “Por mais que ele finja ser um grande geopolítico, ele entrará para a história como um envenenador. Houve Alexandre, o Libertador, Yaroslav, o Sábio, e Putin, o Envenenador de Cuecas”.
Putin negou que o Estado russo tenha tentado matar Navalny, dizendo que teria “terminado o trabalho” se realmente quisesse eliminá-lo.
Os aliados de Navalny disseram que ele estava planejando formular uma plataforma política e criar um grupo de pessoas prontas para governar quando a era Putin terminasse. Ele pediu a seus seguidores que comparecessem às urnas para votar na eleição presidencial da Rússia no próximo mês, ao meio-dia, para expressar sua oposição a Putin, cuja vitória é amplamente esperada.
Ele foi atacado fisicamente dentro da Rússia por ativistas pró-Kremlin várias vezes e quase ficou cego em um ataque.
Antes de ser preso em 2021, Navalny disse que ele e sua família eram seguidos em todos os lugares pelos serviços de inteligência da Rússia. Em uma entrevista à Reuters em 2017, ele ignorou os riscos.
“Os serviços de segurança estão nos seguindo. Eles seguem meus filhos, minha esposa (Yulia) e eu. Os carros estão sempre passando. Eu nem presto mais atenção a isso, mas Yulia está realmente incomodada.”
“Rússia é meu país”
Filho de um oficial do Exército, Alexei Anatolievich Navalny nasceu em 4 de junho de 1976 e cresceu predominantemente em Obninsk, cerca de 100 km a sudoeste de Moscou.
Ele se formou em direito e em finanças e passou um tempo nos Estados Unidos com uma bolsa de estudos em Yale, o que foi aproveitado pelos críticos pró-Kremlin para sugerir que ele era um agente estrangeiro, acusação que ele e seus aliados rejeitavam.
Quando protestos eclodiram em Moscou após o que os críticos disseram ter sido vitória eleitoral fraudulenta do partido governista Rússia Unida em dezembro de 2011, Navalny ganhou destaque internacional com seus discursos inflamados e foi uma das primeiras pessoas presas.
Conhecedor da internet e muitas vezes vestido casualmente com jeans, ele contrasta fortemente com a imagem conservadora de Putin, ex-oficial da KGB, a quem acusou de “sugar o sangue da Rússia”.
Sua descrição do partido governista como “ladrões” repercutiu entre os seguidores e ele foi detido várias vezes nos anos seguintes. Em 2013, ele foi condenado a uma pena de cinco anos por acusações de corrupção antes de ser libertado no dia seguinte.
Mais tarde naquele ano, ele concorreu à prefeitura de Moscou, perdendo para um candidato apoiado pelo Kremlin, mas obtendo 27% dos votos, um resultado que seus apoiadores consideraram impressionante, dada a falta de cobertura da mídia estatal.
Seu grupo usou drones para filmar as luxuosas residências de autoridades cuja riqueza estava sendo examinada. Ele foi processado várias vezes. Um vídeo alegando que Putin é o proprietário final de um palácio opulento, algo que o presidente nega, foi visto mais de 128 milhões de vezes.
Navalny retornou à Rússia em 2021 depois de ser tratado na Alemanha por envenenamento, sabendo que enfrentaria uma prisão certa.
“Nunca foi uma questão de voltar ou não. Simplesmente porque eu nunca saí. Acabei na Alemanha depois de chegar em uma terapia intensiva por um motivo: eles tentaram me matar”, escreveu Navalny antes de seu retorno.
“A Rússia é meu país, Moscou é minha cidade e sinto falta disso.”
Em agosto de 2023, Navalny foi condenado a mais 19 anos de prisão, além dos 11 anos e meio que já cumpria em um processo criminal que, segundo ele, foi concebido para intimidar o povo russo e levá-lo à submissão política.
As acusações estavam relacionadas à participação em seu então extinto movimento dentro da Rússia, que as autoridades acusaram de tentar fomentar uma revolução.
“Entendo perfeitamente bem que, como muitos prisioneiros políticos, estou cumprindo uma sentença de prisão perpétua”, disse ele na época. “Onde a sentença de prisão perpétua é medida pela duração de minha vida ou pela duração da vida deste regime.”
*Informações das agências