“Ore para que Deus transforme essa situação terrível em bem, mesmo que pareça impossível, que transforme o ódio em amor”, compartilha uma cristã da Rússia
Há mais de um mês o povo sofre com a guerra na Ucrânia. Na Rússia o sofrimento também acontece entre a população, que acompanha de perto o massacre ao país vizinho. No meio desse conflito estão os cristãos. Uma cristã na Rússia compartilhou sua visão da guerra em uma entrevista exclusiva à Missão Portas Abertas.
Além de falar sobre si mesma, a cristã também falou de sua família e igreja em meio a difícil realidade atual. Confira!
Como você vê a situação da guerra entre Rússia e Ucrânia?
Eu e minha família não acreditamos que isso era verdade. Parecia tão louco e impossível! Somos contra a guerra e oramos para que Deus intervenha e acabe com a violência. É muito difícil aceitar que nosso país começou a guerra e está “destruindo a casa de alguém”. Outra coisa difícil de aceitar é como isso pode ter consequências severas em todo o mundo.
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A primeira semana foi muito difícil, eu chorava todos os dias ao saber da situação por meio da mídia e das redes sociais. Eles falavam sobre a violência, sofrimento dos ucranianos, refugiados e mortos. Também ouvi que cristãos e igrejas estão sofrendo com a guerra. Isso me fez chorar, sofrer e orar constantemente. Não conseguia encontrar paz.
Como você e as outras pessoas reagiram? O que fizeram?
Organizamos orações em nossas igrejas e fizemos correntes de oração. Grupos de membros da igreja oraram dia e noite e muitos jejuaram. Não podemos impedir a guerra, nem fazer com que sejamos ouvidos. Não podemos organizar uma revolta contra nosso presidente e governo, afinal, como cristãos, temos que abençoá-los mesmo sendo contra o que fazem. Cremos que há outra forma, uma maneira diplomática de se chegar a um acordo.
Além disso, em nossa igreja, arrecadamos recursos para cristãos ucranianos e os enviamos por meio de um membro da igreja que tinha parentes daquele lado. A igreja ficou muito grata, afinal tem várias pessoas deficientes. Eles compartilharam que o recurso chegou no tempo certo e com ele fizeram compras para membros da igreja. Ainda planejamos arrecadar mais recursos, mas no momento não temos como transferir, afinal a fronteira está fechada. Oramos para que haja oportunidade para fazer a transferência.
Com que tipo de problema vocês precisam lidar agora?
Uma questão que é muito difícil para nós, cristãos russos, é sentir o ódio vindo de todas as partes do mundo. Isso faz com que nos sintamos culpados, mesmo sabendo que não somos. Nós não pedimos por essa guerra, não a apoiamos e somos contra essa violência de todo o coração. Mas além das diversas restrições, precisamos lidar também com as sanções e o ódio. Vemos pessoas sofrendo e morrendo dos dois lados enquanto políticos fazem coisas más.
Alguns parentes próximos, uma família cristã que tem filhos jovens, estão muito estressados já que os filhos podem ser recrutados para o exército e enviados para a guerra nos próximos meses. Primeiro, eles se preocupam com os filhos, mas também não querem vê-los lutar contra seus irmãos, matando pessoas em seu próprio país nessa batalha sem sentido.
O que você e sua família enfrentam agora?
Como disse antes, para mim, pessoalmente, é uma luta enorme. A primeira semana foi a mais difícil. Foram tantas as questões, muitas notícias e todas pareciam mentir. O aumento da violência, morte e ódio me deixaram muito triste e chorando. Além disso, também enfrentamos diversos problemas por causa das sanções e questões econômicos não são fáceis de lidar na vida diária. Nós vemos que isso não afeta quem orquestrou a guerra, ou seja, os políticos. Elas punem apenas os civis comuns.
Uma das coisas mais difíceis para mim era a preocupação com minha família, quanto a parentes serem recrutados para o exército e enviados para a guerra. Eu entendi que não posso permanecer nessa loucura, por isso me dediquei à oração e as escrituras, seja sozinha ou com a minha família – meu marido e três filhos. Deus é fiel e nos deu paz.
Agora tenho certeza de que não deveria me sentir culpada. Deus mantém tudo sob controle mesmo sem entendermos por que isso acontece. Ele nos adverte sobre tais situações nas escrituras, como em Mateus 24.6: “Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras, mas não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam…”
Eu sei que Deus protege a mim e minha família e provê todas as nossas necessidades. Deus nos ensinou por meio dessa situação terrível que não devemos ficar tristes por causa do ódio que está ao nosso redor. Nós podemos amar, como ele nos deixou o exemplo. Isso não significa que eu e minha família não nos importamos mais, é claro que isso é impossível. Nós ainda estamos lidando com a tristeza e preocupação por causa dos eventos diários, mas agora não nos sentimos perdidos e frustrados.
O que você gostaria que os cristãos do mundo inteiro fizessem por você, sua família e seu país?
Quero expressar minha gratidão a todos que estão orando por essa situação, seja pelos cidadãos e igrejas na Ucrânia ou por nosso país. As orações são muito necessárias no momento. Por favor, continuem orando. Você pode nos ajudar orando para que: as famílias russas que perderam entes queridos sejam confortadas. Os homens russos não sejam enviados para essa guerra. Eu e minha família sintamos paz e a proteção de Deus. Deus transforme essa situação terrível em bem, mesmo que isso pareça impossível, que transforme o ódio em amor.
Perseguição a Cristãos na Rússia
O país está em 62º lugar no ranking da perseguição a cristãos e compõe a Lista de Países em Observação, que lista os países a partir do 51º lugar até o 76º lugar. Segundo dados da pesquisa que gera a lista, a liberdade religiosa da Rússia está em declínio.
A aprovação da legislação antiterrorismo em 6 de julho de 2016 resultou em uma proibição total das Testemunhas de Jeová no início de 2017.
As restrições trazidas por essa legislação estão afetando cada vez mais os cristãos que não são da Igreja Ortodoxa Russa. Quaisquer conexões que os cristãos na Rússia tenham com igrejas e organizações no exterior estão sob vigilância e limitações crescentes.
*Com informações de Portas Abertas