Há quase quatro anos, pastor Raymond Koh foi retirado de seu carro em uma operação envolvendo pelo menos 15 homens encapuzados na Malásia e desde então ele está desaparecido
Esse semana completou quatro anos que o pastor Raymond Koh foi sequestrado na Malásia. O líder foi tirado do carro e levado por pelo menos 15 homens mascarados, em plena luz do dia. A família não desistiu de encontrá-lo e as buscas pelo pastor continuam.
Na época, a esposa de Koh, Susanna começou uma grande campanha de oração e ação para encontrar o esposo. Ela lidera, junto com outros líderes, uma campanha de pressão para que o governo dê respostas sobre o paradeiro do esposo.
Embora muitas pessoas ao redor do mundo saibam sobre o sequestro do pastor Koh, muitos só o conheceram após seu desaparecimento.
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A última vez que Susanna viu o esposo foi na mesma manhã do sequestro, na casa de uma amiga, onde ela trabalha como babá. As últimas palavras trocadas entre o casal foi ‘eu te amo’. “Ele estava atrasado para uma consulta, partiu apressado e nunca mais voltou”, lamenta a esposa.
Ela explica que as ligações para o celular de Koh iam direto para a caixa postal e as mensagens não estavam sendo visualizadas, indicando que o celular estava desligado. “Depois soube por amigos que ele havia sido confrontado por um grupo de homens encapuzados, jogado para dentro de uma caminhonete preta e levado embora”, disse.
Koh não tinha inimigos. Estava sempre envolvido com os trabalhos da igreja que ele mesmo fundou há 10 anos.
Mas, quem era o pastor Koh?
Pastor Raymond Koh nasceu em 2 de novembro de 1954. De uma família muito pobre, ele tem três irmãos e cinco irmãs. “Koh frequentemente se descrevia como um típico menino da aldeia, sempre aventureiro, travesso e cheio de energia. Era comum que o jovem chegasse em casa com arranhões e feridas das brincadeiras e aventuras na rua”, contam Lee Hwa Beng e Stephen Ng, dois velhos amigos de Koh.
Na juventude, aprendeu a tocar violão e a cantar ouvindo músicas seculares nas rádios. Quando era adolescente, teve um encontro com Jesus e passou a escrever canções de louvor e adoração a Deus. O maior objetivo dele era escrever músicas no idioma local, para que os cristãos malaios também pudessem adorar ao Senhor na própria língua.
Segundo a esposa, pastor Koh era profundamente espiritual. “Ele sempre liderava as devoções familiares, pegando o violão e tocando uma canção de adoração. Ele sempre memorizava as Escrituras e fazia a leitura bíblica. Ele é muito disciplinado e consistente na caminhada. Ele não só fala sobre isso, mas ele faz isso. Ele anda conforme a palavra”.
Apaixonado por pessoas
Além do dom da palavra, o pastor também é conhecido por ter compaixão pelas pessoas. “Ele disse que é importante gastar tempo com as pessoas, o que ele quer dizer é apenas passar tempo com as pessoas, conhecê-las, porque, para ele, as pessoas são a prioridade número um”, relembra Esther.
Susanna lembra que uma vez Raymond foi à casa de uma amiga pedir uma camiseta emprestada, porque tinha doado a que estava usando. “Ele tinha dado sua própria camiseta a um morador de rua. Ele é muito simples, não se importava de desistir da própria roupa por outra pessoa”, diz a esposa.
A família contou que o pastor Koh estava andando pelas ruas de Kuala Lumpur e acidentalmente esbarrou em alguém que lhe devia dinheiro. “Quando o homem viu Koh, ele quis fugir, mas o pastor conseguiu detê-lo, e deu-lhe um abraço. O homem ficou totalmente chocado e o líder cristão disse a ele: ‘Não se preocupe com o dinheiro. Como você está?’ Ele só queria descobrir como o homem realmente estava”, relembra Susanna.
Perseguido por amor a Cristo
O pastor Daniel Ho, da Igreja Metodista Damansara Utama (DUMC, sigla em inglês), conhece o pastor Koh há mais de 30 anos. “Eu sei o bom trabalho que ele tem feito para a comunidade marginalizada. É um amigo muito bom, um homem maravilhoso; humilde, altruísta e sacrificial. É despretensioso, que fez de tudo só para servir a Deus e por amor ao povo”, revela.
O pastor Ho organizou um jantar de ação de graças em 3 de agosto de 2011 nas instalações da DUMC para mostrar apreço aos ajudantes e voluntários da comunidade, bem como arrecadar mais fundos para seu trabalho social. No entanto, no meio do evento, oficiais do departamento religioso JAIS (Selangor Islamic Religious Department, em inglês) invadiram a igreja para impedir a celebração. O fato foi noticiado falsamente, o que também levou à disseminação de muitas alegações infundadas e rumores nas redes sociais.
Duas semanas depois, o pastor Koh recebeu uma ameaça de morte pelo correio, um envelope que continha cinco projéteis e uma carta avisando-o para parar de evangelizar os muçulmanos malaios. Ele também recebeu outras mensagens de ódio e ameaças pelo telefone. Mesmo assim, o pastor se recusou a responder com raiva, mostrando o verdadeiro cuidado com as pessoas, até mesmo com os inimigos.
“Eu avisei Koh, mas ele é do tipo que nunca quis ofender ninguém. Ele costumava me dizer: ‘Está tudo bem. Eles querem escrever mentiras, eles podem fazê-lo’. Também o aconselhei a processar Hasan Ali, que saiu por aí dizendo às pessoas que havia evangelizado muçulmanos. Mas o pastor Koh era um cara legal. Sua resposta foi: ‘Não é assim que fazemos as coisas’. Ele ficou quieto”, compartilha Sri Ram.
Esperança
A família e os amigos do pastor Koh ainda não sabem o que aconteceu com ele desde 13 de fevereiro de 2017. Quatro anos após o sequestro, não há notícias sobre o paradeiro do líder, apenas a certeza de que ele foi vítima de desaparecimento forçado por parte do Estado, mais especificamente da Seção Especial do Departamento de Polícia da Malásia.
Veja o vídeo com depoimento da família do pastor
*Com informações de Portas Abertas