Quanto a nós fica a regra: ouvir antes de falar, pensar antes de agir, agir com convicção de que é o certo, sem precipitação
Após dois anos de festas pobres, com público controlado ou mascarado devido a pandemia da COVID 19, o Oscar voltou com pompa, glamour e circunstância.
A polêmica esperada era a respeito da música “Não falamos do Bruno” de Lin Manuel Miranda, fenômeno musical que estourou em todas as plataformas e se tornou a música mais tocada no mundo e que não havia sido indicada para a estatueta, uma vez que a animação “Encanto” ainda não havia sido lançada e a música escolhida da trilha sonora era a que eles consideravam a mais provável vencedora. Não deu. Mesmo assim, os organizadores do Oscar não resistiram e apresentaram a famosa canção.
O prêmio corria tranquilo, mais uma vez enterrando a audiência, que está menor a cada ano, com piadas sem graça e de gosto duvidoso como as feitas por Wanda Sykes, Amy Schumer e Regina Hall (apresentadoras oficiais) que zombaram das indicações e brincaram a respeito de assédio sexual com os indicados. Mas, o tapa que Will Smith deu em Chris Rock foi muito real.
Além do tapa, Will seguiu com xingamentos acompanhados de palavrões. Mas, o que levou o indicado ao Oscar Por “King Richard – Criando campeãs” levantar-se de seu lugar, subir ao palco e estapear com toda a força o comediante?
Chis Rock brincou com o fato de a atriz Jada Pinkett Smith comparecer careca à cerimônia, dizendo que ela já estava ensaiando para “Até o Limite da Honra 2”, numa referência ao filme (chamado em inglês “G.I. Jane”) em que Demi Moore raspou o cabelo para entrar na tropa de elite da Marinha dos EUA.
A referência foi considerada uma ofensa pessoal por Will Smith, marido de Jada, porque a a atriz sofre de uma doença autoimune, que causa perda de cabelos: “Mantenha o nome da minha esposa longe da p*rra da sua boca!”. Ele repetiu duas vezes o xingamento e houve um silêncio muito constrangedor. Chris Rock tentou manter-se firme e conseguiu apresentar o prêmio, apesar de tremer e parecer a ponto de cair em lágrimas, afinal, até onde se sabia eles estavam estremecidos desde o Oscar de 2016 quando Chris Rock havia feito outra piada sobre Jada.
A piada do Oscar 2022 foi feita de forma aparentemente amigável, inclusive, Will Smith riu dela, apesar da câmera mostrar a cara muito brava de Jada, esposa do ator. Após o tpa Chris disse: “Este foi o maior momento da história da televisão”. Em 2016 Rock ridicularizou um anúncio de boicote da atriz pela falta de atores negros entre os indicados: “Jada boicotar o Oscar faz tanto sentido quanto eu boicotar as calcinhas de Rihanna. Eu não fui convidado”, brincou, arrancando largas risadas de todos os presentes.
O certo é que o tapa repercutiu mal para ambos os lados, pois houve quem se posicionasse a favor de um e de outro. Piadas de mal gosto, quando mal recebidas provocam reações, mas Will Smith podia ter voz na situação usando o microfone para defender a esposa e a família, como ele fez questão de frisar, mas violência física JAMAIS. Foi desnecessária. Há quem comece a analisar se ele não saiu do personagem que lhe proporcionou o Oscar na noite de 27 de março de 2022 ou se os problemas familiares como a doença da esposa, os transtornos do filho e outras preocupações o levaram a tal descontrole.
Hollywood costuma “passar pano” nos seus e punir os que lhe desagradam e ninguém é tão querido quanto Will Smith, mas ele passou do ponto, ainda que por uma boa causa. Ao receber a estatueta ele se desculpou e alegou ter sido acalmado por Denzel Whasington que lhe disse: “Em seu momento de maior grandeza, tome cuidado. É nesta hora que Satanás irá te procurar”.
Além de Denzel, Tyler Perry também foi falar com Smith que, enxugou as lágrimas ao lado de Jada Pinkett Smith. A doença de Jada, alopecia, faz cair os cabelos, então, ela optou por raspá-los completamente. Premiado com o Oscar de melhor ator, Will se desculpou com a Academia e falou o que motivou a agressão, mas dividiu opiniões. Quais as consequências? Para a premiação o melhor dos mundos: flashes, trend topics, entrevistas, repercussão e holofotes, provavelmente uma audiência maior no próximo ano.
Para Will Smith, talvez, acompanhamento psicológico e para Chris Rock um aprendizado: melhorar as piadas e se informar antes a respeito de quem e sobre o que vai falar, afinal stand up, ou seja, improvisar, em uma festa com transmissão global vale a pesquisa e a informação. Quanto a nós fica a regra: ouvir antes de falar, pensar antes de agir, agir com convicção de que é o certo, sem precipitação, afinal, na caminhada da cadeira até o palco houve tempo para uma mudança de atitude, que não veio, mas que serviu de lição para todos os envolvidos e que vale a nossa reflexão.
Priscila Aguiar Laranjeira – Professora, publicitária, escritora com 49 títulos publicados, Gerente Editorial da Editora Getsêmani em Belo Horizonte/MG